Versão original da minha coluna para o Guia da Semana
Fim de casamento?
Que São Paulo tem uma vida noturna ímpar, todo mundo sabe. Em qualquer noite da semana que se queira sair, encontra-se diversão. No entanto, algo mudou nos últimos meses. Depois da bem-vinda Lei Seca, que fez motoristas, à custa de blitz e bafômetro, perceberem o mal que podem causar dirigirindo embriagados, ou da outra lei que proíbe o cigarro em ambientes fechados, parece que os hábitos do boêmios se alteraram.
Sempre existiu o "esquenta" num bar para terminar numa festa ou clube noturno. O que noto é um diminuição do programa duplo. O que era um sagrado matrimônio virou um amizade colorida. Passada a fase de adaptações, que fez o movimento cair, nota-se que hoje as pessoas são mais seletivas. Não é uma regra, claro, mas começou a surgir um relacionamento monogâmico com relação ao destino escolhido.
As casas noturnas se adaptaram à Lei Antifumo mas isso levou muitos a avaliarem se vale a pena restringir o grupo de amigos que antes os acompanhavam em baforadas nem sempre bem acolhidas numa pista, para se dividir entre o fervo interno e as escapadas pro lado externo, com seu outro "companheiro".
Em bate-papo com amigos, acabo colhendo alguns dados. Fulano fumante não quer gastar duas vezes se tiver que se adaptar a duas regras distintas. Dependendo do lugar, poderá ter acesso à calçada ou terá que guardar suas tragadas pra quando a balada terminar. Encontrar um ponto seguro, um oásis do tabaco, cria conforto e reativa raízes. Mesmo assim, o fumante não vai deixar de bater cartão naquele lugar em que sempre encontrou os amigos e que adotou um regulamento mais rígida. Como resolver o dilema? Programando com antecedência o que irá fazer. O que era um impulso, hoje tem que ser dosado.
Mas e o não-fumante nesta história? Todos temos amigos fumantes. Impossível viver sem encontrar alguém que adora umas pitadas. O bom papo prevalece, assim como a solidariedade. Então, se hoje amigos fumantes decidirem passar num bar em que se tem facilidade de acesso ao cigarro, a harmonia reinará e por mais tempos ficarão ali. No dia seguinte, é a vez do amigo fumante ceder: tudo bem parecido com a regra do rodízio entre amigos que decidem quem vai dirigir e em que noite.
Aonde quero chegar? À conclusão de que estamos diante de uma mudança de hábito que altera o funcionamento da noite. Se é positiva ou se traz aspectos retrógrados, ainda não sei definir. Deu pra perceber que a noite perdeu um pouco do brilho, mas ganhou muitos pontos em civilidade. Como todo casamento, prazer e respeito devem encontrar um equilíbrio para que os parceiros continuem juntos.
Sunday, November 15, 2009
Mais uma do Guia da Semana
Famoso quem?
A noite, lugar de diversão, atrai também pessoas que só tem um único objetivo: aparecer
Por Eneas Neto
Nesses tempos em que perfis sociais na internet têm mais peso que um currículo exemplar, na noite não poderia ser diferente. A fogueira de vaidades nas festas cresce à medida que a busca pela fama se torna cada vez mais um refúgio para pessoas que acreditam na necessidade de ser mais do que as outras.
Ser vip, esticar o pescoço para aparecer ao lado da "personalidade", gastar todo o salário do mês para pedir uma garrafa de Cristal... vale tudo para se destacar na multidão. Essa história é antiga. Diferenciar-se faz parte da competitividade humana, alimenta um prazer incontrolável que afaga o ego. O porém é que hoje, com a velocidade que as mudanças são impostas, os critérios mudaram, tornando-se também mais imediatos. Hoje já é ontem. Aquele bafo que gerou uma bela foto no site do clube da moda não diz mais nada, mesmo que se tente perpetuá-la na esperança de que o Google indexe em sua base de dados gerando uma referência, uma palavra-chave e, porque não, um trend no Twitter. "Ah, isso seria o máximo!"
Ser reconhecido faz bem a todos, principalmente quando se consegue por mérito próprios, à custa de bons anos de trabalhos, relacionamentos ou de troca de experiência . Ao menos funcionava assim. Agora dá pra se construir uma trajetória virtual sem mesmo ter aparecido nos lugares certos, nas horas certas. Dizer que foi, ler um pouco sobre o que aconteceu, mexer naquela foto que tirou com o famoso para não reconhecerem o lugar e... voilá! Já faz parte do seleto circuito dos trendsetter notívagos.
Claro que não é uma regra. Nem todo mundo que está na noite quer ser notado ou mesmo se preocupa com isso. Muitos querem apenas se divertir com os amigos, aliviar a tensão que o ritmo pesado da cidade imprime, extravasar. Eis que surge aquela atriz da novela e a câmera do celular coça pra ser sacada... Natural, não? Curiosidade alimenta a vida. O problema começa quando, em certos contextos, se faz questão de lembrar quão importante é para o indivíduo não ser comum, que ser especial é comprar um pedacinho do céu das estrelas. Que o importante é o que você pode e não o que você faz. Aí, a fotinho da personalidade não diz nada.
Encontrando velhos amigos na noite de São Paulo e dividindo essas divagações, alimento esperanças nas pessoas, mesmo vendo toda uma nova geração que se preocupa mais com uma identidade própria que, no fundo, é igual a milhares de outras que estão logo ali, no perfil dos amigos virtuais. Busca tanto ser diferente que se torna mais um no exército da mesmice.
Famoso quem?
A noite, lugar de diversão, atrai também pessoas que só tem um único objetivo: aparecer
Por Eneas Neto
Nesses tempos em que perfis sociais na internet têm mais peso que um currículo exemplar, na noite não poderia ser diferente. A fogueira de vaidades nas festas cresce à medida que a busca pela fama se torna cada vez mais um refúgio para pessoas que acreditam na necessidade de ser mais do que as outras.
Ser vip, esticar o pescoço para aparecer ao lado da "personalidade", gastar todo o salário do mês para pedir uma garrafa de Cristal... vale tudo para se destacar na multidão. Essa história é antiga. Diferenciar-se faz parte da competitividade humana, alimenta um prazer incontrolável que afaga o ego. O porém é que hoje, com a velocidade que as mudanças são impostas, os critérios mudaram, tornando-se também mais imediatos. Hoje já é ontem. Aquele bafo que gerou uma bela foto no site do clube da moda não diz mais nada, mesmo que se tente perpetuá-la na esperança de que o Google indexe em sua base de dados gerando uma referência, uma palavra-chave e, porque não, um trend no Twitter. "Ah, isso seria o máximo!"
Ser reconhecido faz bem a todos, principalmente quando se consegue por mérito próprios, à custa de bons anos de trabalhos, relacionamentos ou de troca de experiência . Ao menos funcionava assim. Agora dá pra se construir uma trajetória virtual sem mesmo ter aparecido nos lugares certos, nas horas certas. Dizer que foi, ler um pouco sobre o que aconteceu, mexer naquela foto que tirou com o famoso para não reconhecerem o lugar e... voilá! Já faz parte do seleto circuito dos trendsetter notívagos.
Claro que não é uma regra. Nem todo mundo que está na noite quer ser notado ou mesmo se preocupa com isso. Muitos querem apenas se divertir com os amigos, aliviar a tensão que o ritmo pesado da cidade imprime, extravasar. Eis que surge aquela atriz da novela e a câmera do celular coça pra ser sacada... Natural, não? Curiosidade alimenta a vida. O problema começa quando, em certos contextos, se faz questão de lembrar quão importante é para o indivíduo não ser comum, que ser especial é comprar um pedacinho do céu das estrelas. Que o importante é o que você pode e não o que você faz. Aí, a fotinho da personalidade não diz nada.
Encontrando velhos amigos na noite de São Paulo e dividindo essas divagações, alimento esperanças nas pessoas, mesmo vendo toda uma nova geração que se preocupa mais com uma identidade própria que, no fundo, é igual a milhares de outras que estão logo ali, no perfil dos amigos virtuais. Busca tanto ser diferente que se torna mais um no exército da mesmice.
A partir de agora, passo a republicar textos que publiquei em alguns sites. Abaixo segue o da minha coluna no Guia da Semana
Dublê de DJ
Rostos famosos usam a tecnologia como muleta e passam a discotecar mundo afora. Eneas Neto, DJ da noite paulistana, disserta sobre a legitimidade da função
Por Eneas Neto
Nas últimas semanas, muito se falou sobre o fato de Jesus Luz, o namorado da Madonna, ter "virado" DJ com uma técnica não muito ortodoxa. Em um festival no Nordeste do Brasil, ele teria, segundo um outro DJ, feito sua apresentação com CDs previamente mixados ou mesmo, de acordo com outras fontes, contado com ajuda de uma outra pessoa que, escondida atrás de uma mesa, realizava as passagens entre as músicas.
O fato é que milhares de pessoas que estavam lá queriam dançar.A maioria para conferir os dotes mais que perfeitos (não necessariamente técnicos) do rapaz. Segundo quem realizou e contratou Jesus Luz para o evento, tudo foi um sucesso e pouco importa a "técnica" utilizada, pois a galera aprovou dançando e gritando. Já DJs profissionais chiaram com diversos manifestos, abominando o que consideram um mero culto à celebridade.
Do ponto de vista de entretenimento, já cansamos de ver playbacks mais divertidos do que shows de artistas de "talento" que não conseguem parar em pé. Se a ideia é divertir, o público-alvo é quem manda. Muita gente nem sabe se um DJ mixa bem ou não, até se realmente tem voz ou se é fruto de produtores de estúdio. Ficar perto do famoso é o que importa hoje em dia?
Existe, sim, uma tendência a desejar o fácil e o acessível. Aliás, sempre houve. Dos artistas fabricados por gravadoras em décadas passadas a atores que se aventuravam em áreas que necessariamente não eram as deles, sempre houve tentativa de se criarem fórmulas infalíveis de sucesso. Não é de hoje que DJ não precisa ter técnica para comandar uma noite. A popularização da tecnologia permitiu, há pouco tempo, as festas de iPods, nas quais algumas pessoas simplesmente levavam lista pré-gravadas para tocar na pista de dança. Os formadores de opinião achavam o máximo. Qual a diferença em convidar alguém para "atacar de DJ", mesmo não sabendo nada além de selecionar músicas de que gosta e apertar o botão "play" ao lado de um técnico?
Não defendo o falso, o antiético ou a falta de profissionalismo. Só acho que exageram em cremar pessoas por se aventurarem na noite com o objetivo de entreter um grupo que já sabe o que vai encontrar, diferentemente de pagar ingresso para ver "aquele francês" inacessível e com técnica primorosa. Sou a favor da liberdade de escolha e pela pluraridade. Há mercado pra todo mundo.
Dublê de DJ
Rostos famosos usam a tecnologia como muleta e passam a discotecar mundo afora. Eneas Neto, DJ da noite paulistana, disserta sobre a legitimidade da função
Por Eneas Neto
Nas últimas semanas, muito se falou sobre o fato de Jesus Luz, o namorado da Madonna, ter "virado" DJ com uma técnica não muito ortodoxa. Em um festival no Nordeste do Brasil, ele teria, segundo um outro DJ, feito sua apresentação com CDs previamente mixados ou mesmo, de acordo com outras fontes, contado com ajuda de uma outra pessoa que, escondida atrás de uma mesa, realizava as passagens entre as músicas.
O fato é que milhares de pessoas que estavam lá queriam dançar.A maioria para conferir os dotes mais que perfeitos (não necessariamente técnicos) do rapaz. Segundo quem realizou e contratou Jesus Luz para o evento, tudo foi um sucesso e pouco importa a "técnica" utilizada, pois a galera aprovou dançando e gritando. Já DJs profissionais chiaram com diversos manifestos, abominando o que consideram um mero culto à celebridade.
Do ponto de vista de entretenimento, já cansamos de ver playbacks mais divertidos do que shows de artistas de "talento" que não conseguem parar em pé. Se a ideia é divertir, o público-alvo é quem manda. Muita gente nem sabe se um DJ mixa bem ou não, até se realmente tem voz ou se é fruto de produtores de estúdio. Ficar perto do famoso é o que importa hoje em dia?
Existe, sim, uma tendência a desejar o fácil e o acessível. Aliás, sempre houve. Dos artistas fabricados por gravadoras em décadas passadas a atores que se aventuravam em áreas que necessariamente não eram as deles, sempre houve tentativa de se criarem fórmulas infalíveis de sucesso. Não é de hoje que DJ não precisa ter técnica para comandar uma noite. A popularização da tecnologia permitiu, há pouco tempo, as festas de iPods, nas quais algumas pessoas simplesmente levavam lista pré-gravadas para tocar na pista de dança. Os formadores de opinião achavam o máximo. Qual a diferença em convidar alguém para "atacar de DJ", mesmo não sabendo nada além de selecionar músicas de que gosta e apertar o botão "play" ao lado de um técnico?
Não defendo o falso, o antiético ou a falta de profissionalismo. Só acho que exageram em cremar pessoas por se aventurarem na noite com o objetivo de entreter um grupo que já sabe o que vai encontrar, diferentemente de pagar ingresso para ver "aquele francês" inacessível e com técnica primorosa. Sou a favor da liberdade de escolha e pela pluraridade. Há mercado pra todo mundo.
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